A genialidade por trás da obra: Marcelo Segreto.





"Quero ser assim quando crescer!". Quem nunca viu alguém que admirasse a ponto de dizer tal frase? A última vez que me lembro de tê-lo feito foi quando conheci mais de perto Marcelo Segreto.

Inteligência e genialidade talvez definam esse jovem compositor, formado em Letras e Música, ambas pela USP, e que, num belo dia, resolveu juntar um grupo de amigos e colegas para tocar as canções que compunha desde os 15 anos. A Filarmônica de Pasárgada tem, afinal, a cara de seu idealizador: despojamento, erudição, pegada popular e muito, muito bom humor.

Influenciado pelos mais diversos estilos - ele cita desde Radiohead até Lady Gaga, passando por Los Hermanos e o funk carioca -, os arranjos das músicas deixam entrever as tantas inspirações, mas é na elaboração das letras, cheias de sutis trocadilhos e referências, que está o ouro de Marcelo. Usando elementos dos mais cotidianos e comuns, ele faz construções elaboradas, orações repletas de inversões gramaticais, aliterações, rimas internas e tantos mais recursos, desses que você aprende na escola mas que poucos sabem empregar tão bem. E ele é um desses poucos.

O talento é tão evidente que, neste ano, a Filarmônica recebeu o convite de um dos ídolos e uma das maiores inspirações do músico, para trabalhar num novo disco, além de um EP, produzido em meio a uma polêmica. Tom Zé, tropicalista atualíssimo, enxergou na big band e em seu criador a atualidade sonora que eles têm levado aos palcos. O EP "Tribunal do Feicibuqui" conta com 5 faixas, e Marcelo assina 2 delas, em parcerias com Tim Bernardes, Gustavo Galo e o próprio Tom Zé (o disco pode ser baixado gratuitamente aqui).O convite se estendeu e a participação deles no próximo álbum do ícone está mais do que garantida.

O mais interessante em toda obra de Marcelo (e as 15 faixas do primeiro disco da Filarmônica, O Hábito da Força, levam a sua assinatura) é perceber que, num universo musical tão rico e diverso, como o atual, onde tantos experimentam tantas coisas diferentes, ele consegue imprimir uma marca própria, única, em suas canções. E falamos de canções mesmo, na acepção popular do termo. Canções que falam de cotidiano, onde se pode encontrar, facilmente, referências próximas. Mas não se engane quem achar, com isso, que há um desprezo pelo estudo mais profundo: somente quem conhece tão bem os mecanismos internos da linguagem em todos os seus meandros é capaz de subvertê-los de tal forma, criando canções imagéticas, cheias de camadas de exploração e, ao mesmo tempo, capazes de produzir empatia instantânea no ouvinte.

É fácil enxergar em pessoas como Marcelo um dos muitos futuros para a música brasileira. E a melhor parte é que podemos desfrutar desse talento já aqui no presente. Afinal, pra que espera? "Depois fica gagá/ Depois vai falecer/ E as coisas continuam sem você"





por Isa Leite